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Pombo Passageiro foi a maior extinção causada pelo homem

Domínio público - Marta, o último exemplar vivo de Pombo Passageiro, que morreu em 1914 title=Marta, o último exemplar vivo de Pombo Passageiro, que morreu em 1914
Crédito: Domínio público

Se você acha que existem muitos pombos hoje, imagine um denso bando migratório de pombos com nada menos que um quilômetro e meio de largura por quinhentos quilômetros de comprimento. Distância maior que a entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Esses eram os Pombos Passageiros, espécie nativa da América do Norte, que teve uma surpreendente extinção, indo de bilhões de indivíduos até desaparecer no começo do século 20. Marta, a última integrante da espécie, que recebeu o nome em homenagem a Martha Washington, morreu no dia 1º de setembro de 1914, aos 29 anos, no zoológico de Cincinnati.

Os primeiros exploradores do continente descreviam grupos gigantescos de Pombos Passageiros. O aventureiro Samuel de Champlain, em um relato do século 17, afirmou que os bandos demoravam horas para passar. Um relato de um morador do Kentucky, de 1831 dizia que “o céu ficou escuro de pássaros por três dias”.

Algumas estimativas afirmam que existiam até cinco bilhões de Pombos Passageiros nos Estados Unidos quando o país começou a ser colonizado, o que representava 25% a 40% de toda a população de aves no país. Mas como poderia uma espécie tão difundida desaparecer completamente?

Início do fim

Mesmo no período pré-colombiano, os Pombos Passageiros já eram caçados pelos nativos para alimentação, mas o processo se intensificou com a colonização européia. Nos séculos 17 e 18, ele era vendido como alimento para os escravos, além de ser usado como fertilizante ou para engordar porcos. No começo do século 19, um par de Pombos Passageiros podia ser comprado pelas ruas de Nova York por 2 centavos de dólar.

No meio do século 19, foi constatado que o número de pombos diminuía vertiginosamente, mas a caça apenas se intensificou com o desenvolvimento das ferrovias que ajudaram a colonizar o interior dos EUA. Existem relatos de três milhões de Pombos Passageiros abatidos para a venda por um único comerciante em 1878.

Havia diversos métodos para a caça, como jogar grãos cheios de álcool aos animais ou usar fogo para afastá-los de seus ninhos. Outra forma popular de caça consistia em cegar um animal com uma agulha e fazê-lo voar preso a uma corda. Ao chamar a atenção do bando, uma rede era jogada sobre a massa de aves, que tinham os seus crânios esmagados um por um pelos caçadores.

Queda constante

Apesar da diminuição da quantidade de Pombos correios, as caçadas prosseguiam, pois as legislações de proteção criadas eram tímidas, assim como a fiscalização. Em 1878, em Michigan, 50 mil aves foram mortas diariamente por cinco meses. Em 1896, o bando final de 250 mil pássaros foi morto por caçadores que estavam cientes de que aquele era o último grupo daquele tamanho.

O desmatamento foi outro fator. As aves precisavam de um espaço enorme para se reproduzir e se proteger dos predadores. As populações também sofreram com a doença de Newcastle, um mal aviário infeccioso que foi introduzido ao novo mundo por galinhas européias.

As tentativas de reprodução em cativeiro não tiveram sucesso. O Pombo Passageiro era um pássaro gregário que se reproduzia apenas em grandes números, e foi impossível recriar essas condições. Os pequenos bandos ficavam fracos e doentes até perecer.

Hoje, o corpo empalhado de Marta, última de sua espécie, é conservado pelo Instituto Smithsonian, nos EUA. O caso dos Pombos Passageiro é um constante lembrete de como o ser humano é capaz de destruir até mesmo aquilo que na natureza parece infinito.

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