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Conheça a arrepiante “ponte dos cães suicidas” na Escócia


Lendas falam que a alma de uma antiga viúva, a “Dama Branca”, estaria envolvida com os casos de suicídio de cães. Você vê alguma figura nesta janela? (Reprodução)

Lottie Mackinnon passeava com sua Border Collie Bonnie pela Ponte Overtoun, na cidade de Dumbarton, na Escócia, quando algo fez a espinha da cadela de 6 anos congelar. “Alguma coisa fez Bonnie querer se aproximar daquela ponte”, conta apreensiva. “Ela ficou imóvel como uma estátua e, de repente, foi tomada por uma forte energia que a fez correr e pular do parapeito”, relembra Mackinnon. “Tive certeza de que ela estava morta”, lamenta a mulher.


Mais de 600 cães teriam pulado da ponte, segundo fontes locais (Reprodução)

Uma cadela enfeitiçada atraída a pular de uma ponte por uma força malévola? Parece uma cena absurda saída de algum episódio de seriado de terror, mas é uma das histórias contadas nas ruas da cidade escocesa de pouco mais de 20 mil habitantes.

Os donos de cães da região conhecem a lenda da ponte e falam em centenas de animais que ali se suicidaram, saltando da gótica estrutura feita de pedra, construída no século XIX. Muitos nunca mais foram visto depois de mergulharem no vale. Os então residentes de Dumbarton, cidade que fica a noroeste de Glasgow, começaram a chamar a ponte centenária de 15 metros de altura de “ponte dos cães suicidas”.


Apesar dos relatos, o local ainda é muito popular entre cães para longos passeios (Reprodução)

Mackinnon sente o corpo tremer ao se lembrar de sua corrida pelo desfiladeiro entre árvores e arbustos, em uma busca desesperada por Bonnie. Ao ver da cadela deitada, a mulher se aproximou da companheira, que começou a choramingar e tentou se levantar. “Foi um milagre ver que ela ainda estava viva”, conta emocionada.

Em uma terra cheia de superstições e mitos, entre elas a famosa lenda do monstro do Lago Ness, a ponte é um dos grandes mistérios que perduram até hoje. Mas por que os cães pulam dali?


Ponte Overtoun: paranormal ou uma inebriante mistura de odores? (Reprodução)

Pesquisadores estimam que mais de 300 cães se jogaram da ponte; um tabloide local fala em 600 animais. O que se sabe é que, ao menos, 50 cães já morreram na sinistra ponte.

Muitos buscam uma explicação racional envolvendo o terreno e uma mistura de odores de outros animais, que levaria os cães a um frenesi. Os mais místicos falam em eventos paranormais.

A ponte fica em um local silencioso, de natureza exuberante, descrito pelos escoceses como “a thin place”, que se traduziria por um local fascinante, cheio de energia, onde a distância entre o céu e a terra seria menor, e nós seríamos capazes de sentir a presença divina. “As pessoas em Dumbarton são supersticiosas”, conta Alaister Dutton, um taxista da região. “Crescemos brincando perto da ponte e acreditamos que fantasmas e espíritos vivem por lá”, diz.


“Ponte perigosa: mantenha seu cão na coleira” (Reprodução)

Os saltos já foram tema de livros e até de um programa de TV chamado “The Unexplained Files”, em tradução livre, “Arquivos Inexplicáveis”. Entre histórias, teorias e conspirações, o mistério continua.


The Unexplained Files, do canal Science Channel, tentou desvendar o mistério – áudio original em inglês (Reprodução)

À distância, parece que a ornamentada ponte vitoriana, construída em 1895, é uma mera extensão da entrada da garagem da mansão vizinha, erguida por um rico industrial, James White. Ao olhar mais de perto, é possível distinguir os três arcos que atravessam um pequeno rio, o Overtoun Burn. Abaixo do parapeito de granito enegrecido pelo limo, um desfiladeiro profundo.


Cheiros de animais atrairiam cães para o desfiladeiro. Será? (Reprodução)

Na mansão, o atual inquilino, Bob Hill, diz que ele e a esposa Melissa viram vários cães mergulharem subitamente na imensidão desde que se mudaram para a propriedade, agora chamada Overtoun House, há mais de 17 anos.

Mas Hill, um pastor do Texas que administra um centro para mulheres em crise, tem uma explicação para o fenômeno, e ela nada tem a ver com forças paranormais. O cheiro de pequenos animais presentes no entorno do desfiladeiro levaria os cães à loucura, fazendo-os saltar em meio à mata e ao rio. “Os cães sentem o cheiro de coelhos, esquilos e tantos outros animais e simplesmente pulam, sem pensar no que os espera lá embaixo”, argumenta Hill. Mesmo diante da própria explicação plausível, ele admite em tom místico: “este terreno é mais espiritual do que outras áreas da região. A Escócia é um lugar onde o sobrenatural é muito comum na vida das pessoas”, completa Hill, deixando de lado toda a racionalidade de sua teoria.


Bob Hill e a esposa Melissa: “A Escócia é um lugar onde o sobrenatural é muito comum na vida das pessoas” (Reprodução)

Paul Owens, professor de religião e filosofia em Glasgow, cresceu em uma cidade perto da ponte e publicou recentemente um livro sobre o mistério. Quando se trata de uma explicação para os saltos dos cães, crê firmemente no sobrenatural. “Após 11 anos de pesquisa, estou convencido de que há uma força oculta por trás de tudo isso”, conta calmamente, sentado em um pub em um dia chuvoso.

A teoria de Owens é popular entre alguns moradores, que cresceram ouvindo histórias sobre a “Dama Branca de Overtoun”, também conhecida como a viúva de John White, filho de James.

“A senhora viveu sozinha em luto por mais de 30 anos, após a morte do marido, em 1908″, diz Marion Murray, habitante de Dumbarton. “Seu fantasma caminha por aqui desde então. Ela foi vista pelas janelas e andando pelos jardins.”

Em 2010, o especialista em comportamento animal David Sands investigou o fenômeno e descartou a possibilidade de os animais se matarem deliberadamente. Suas experiências na ponte revelaram que os cães – especialmente as raças de nariz comprido – eram atraídos pelo cheiro de mamíferos que viviam na mata abaixo da ponte. Sands teoriza que a perspectiva limitada dos cães, não os permite enxergar a mudança de nível do solo para a ponte e, então, para o desfiladeiro profundo.


Filme trata sobre o mistério da sinistra ponte escocesa (Reprodução)

No entanto, até o pesquisador reconheceu que a ponte lhe provocava um “sentimento estranho”. Alguns moradores acharam sua teoria coerente, mas muitos ainda assumem a posição de que os saltos são inexplicáveis. Eles questionam por que o fenômeno não ocorreria na mesma proporção em outras pontes na Grã-Bretanha, onde mamíferos também vagam pelas redondezas. “Outras pontes não têm espíritos perturbados à espreita”, insiste Mackinnon sombriamente.

Os eventos perturbadores não se resumem a suicídios caninos. Em 1994, Kevin Moy, de 32 anos, jogou seu filho de 2 anos da mesma ponte, alegando que o garoto seria a reencarnação do demônio. A criança não resistiu aos ferimentos. O pai teria tentado se matar diversas vezes depois do ocorrido, segundo o jornal The Herald. Moy foi julgado anos depois e absolvido, após a constatação de que ele sofria de encefalomielite miálgica, doença que afetaria suas funções mentais.

Apesar da reputação macabra, os terrenos de Overtoun continuam sendo uma área popular para passeios turísticos e também caminhadas com cães. Muitos animais andam livremente sem coleiras. “Algumas pessoas não acreditam na história até que se repita com elas”, diz Hill.


Livros com histórias assustadoras sobre a Ponte Overtoun. O da esquerda foi escrito por Owens (Reprodução)

Emma Dunlop, mesmo já tendo ouvido “as histórias de horror”, costuma levar sua Golden Retriever Ginger para caminhadas em Overtoun. Ela não deixa a cadela sair da caminhonete até que esteja na coleira. “Ginger nunca tentou pular, mas, às vezes, congela ou hesita quando chega perto da ponte, por isso sou sempre cuidadosa”, conta Dunlop.

As duas se preparam para mais um passeio. Quando a porta do carro se abre, Ginger corre em volta da dona e vai direto para a Ponte Overtoun, atravessando-a sem pensar duas vezes. A cadela para por completo e olha atentamente para alguma coisa no horizonte, vazia e imperceptível aos olhos humanos. “É Dama Branca”, brinca Dunlop.

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