Comportamento e adestramento: afinal, qual é a diferença?

Por vezes, quando estou conversando com pessoas nos parques ou mesmo quando estou acompanhando alguns casos, percebo que as pessoas têm muita dificuldade em entender o que faço. A maioria, quando vê que seu cachorro está com algum problema, acredita que precisa chamar um adestrador para resolver. Mas o que eles não percebem é que, na maioria das vezes, o problema não é o cão, mas sim, os próprios donos. E é exatamente nesse ponto em que atuo.

O adestramento é a utilização de diversas técnicas para condicionar o animal em determinadas situações. Nas novelas, comerciais de televisão e filmes, praticamente tudo o que os cães fazem é baseado no condicionamento. Não é nada difícil condicionar um cão para dar a pata utilizando a técnica do reforço positivo: você dá o comando “mão”, por exemplo, e, quando ele der a pata você o recompensa com um petisco. Outro exemplo é dar um “não” toda vez que o animal tentar fazer algo errado. Nas duas situações, após algumas repetições, o animal estará condicionado.

Trabalhar com o comportamento é entender o que é normal ou não para os cachorros e buscar soluções naturais para os desvios comportamentais. É buscar o equilíbrio na relação entre o homem e o cão. Cães equilibrados raramente apresentam problemas comportamentais, além de serem mais facilmente treinados. Mas o que deve ter um cão para ser equilibrado?

Um animal equilibrado é aquele que tem todas as suas necessidades preenchidas diariamente. Além de água, comida, carinho e cuidados com a saúde, deve ter atividades físicas rotineiras e desafios psicológicos frequentes. O problema é que costumamos humanizar os cães, e costumamos mimá-los e tratá-los como nossos filhos – e é aí que os problemas aparecem.

Costumamos dar prioridades para as coisas erradas – achamos que dar carinho é a melhor forma de agradar a um cão, ou para nos desculparmos pela falta de atenção durante o dia, damos um petisco super saboroso. Esquecemos que, na natureza, os cães não recompensam os demais da matilha com petiscos e nem com carinho.

Eles vivem o momento, compartilham a comida que levaram um ou dois dias para caçar, ensinam uns aos outros a hierarquia da matilha e migram juntos. Enfim, têm uma vida repleta de atividades e aprendizados constantes – fatores importantes para manter o equilíbrio no grupo.

Porém, quando nós os domesticamos, geralmente falhamos em dar continuidade em seu estado de equilíbrio – paramos de dar limites aos seus comportamentos, esquecemos de disciplinar com as regras do grupo e não oferecemos atividades físicas e desafios mentais. Qualquer semelhança com as crianças mimadas que observamos atualmente é mera coincidência.

Portanto, se você está com problemas com seu cão, pare, pense e veja onde é que você está errando. Os comportamentos indesejados que ele está demonstrando, provavelmente, são apenas reflexos da vida que você está oferecendo a ele. Cães equilibrados, que passeiam rotineiramente, que têm regras e limites bem claros e que são muito bem cuidados, raramente, apresentam problemas comportamentais.

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