Você já deve visto várias manchetes sobre descobertas ligando alimentos a doenças cardíacas em cães. O tom das notícias é alarmante e muitos tutores acabam tendo sérias preocupações sobre o que é seguro servir aos seus pets.
Dieta sem grãos são a nova moda, mas é preciso cuidado na hora de adotá-la (Foto: divulgação)
Com base no relatório mais recente da Food and Drug Administration (FDA), agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, algumas marcas de alimentos para cães foram citadas e ligadas a doenças cardíacas em determinadas raças. Confira abaixo as respostas às perguntas mais frequentes e os pontos mais importantes sobre o assunto para que você possa descobrir como manter seu animal de estimação saudável.
O que é a doença cardíaca em cães?
Desde 2014, o FDA recebeu 515 relatos de casos de cães diagnosticados com cardiomiopatia dilatada ou DCM. A DCM é uma doença cardíaca séria, com risco de morte, que ocorre quando as paredes musculares do coração tornam-se mais finas e enfraquecidas, a ponto de aumentar ou dilatar o coração. Isso evita que o sangue seja bombeado normalmente pelo corpo e leve à insuficiência cardíaca congestiva.
Doença cardíaca em cães tem aumentado recentemente (Foto: divulgação)
Não está totalmente claro como a DCM se desenvolve, mas alguns cães são geneticamente predispostos ao problema (por exemplo, Doberman Pinschers e Boxers), enquanto outros parecem estar desenvolvendo a partir de sua dieta (por exemplo, Golden Retrievers). Quando se trata da DCM associada à dieta, uma deficiência na taurina tem sido verificada em alguns cães, enquanto em outros, não é detectada.
A taurina é um aminoácido encontrado principalmente em fontes de carne e é um nutriente importante na manutenção de um coração saudável. Mais pesquisas são necessárias para descobrir se a deficiência de taurina é o principal problema ligado ao recente aumento nos casos de DCM, já que os níveis de taurina nem sempre são baixos quando a doença é diagnosticada.
Quais dietas alimentares para cães podem estar ligadas às doenças do coração?
Dietas sob medida (ou “boutique”), exóticas e sem grãos (ou “grain free”), também conhecidas como dietas BEG, termo inventado pela Dra. Lisa Freeman, nutricionista veterinária da Universidade Tufts (de Massachussets, nos Estados Unidos), são aquelas que incluem carnes exóticas como canguru, pato, veado ou cordeiro. Essas dietas geralmente são limitadas em ingredientes e têm carboidratos como batatas ou leguminosas. Muitas não têm milho, trigo, carne ou frango. A razão pela qual as carnes exóticas são uma potencial ligação à doença cardíaca em cães é que não há informações suficientes sobre a adequação nutricional dessas carnes como fontes de proteína para pets.
Comida deve ter ingredientes balanceados e ser de marca confiável (Foto: divulgação)
Dietas vegetarianas, veganas e preparadas em casa também têm sido associadas a doenças cardíacas em cães, devido à baixa quantidade de proteínas e perfil nutricional. Não contêm subprodutos de carne ou carne em si (vegetarianos) nem produtos de origem animal, ou são cozidas e preparadas em casa, usando uma quantidade limitada de ingredientes.
O relatório da FDA descobriu que certos ingredientes encontrados na maioria dos alimentos para cães em dietas BEG secas eram comumente ligados ao DCM: 90% das dietas estavam “livres de grãos” e 93% tinham ervilhas e/ou lentilhas.
Quais raças apresentam maior incidência de doenças cardíacas ligadas a dietas exóticas ou sem grãos?
A raça Golden Retriever teve os maiores números de casos relatados de DCM ligados à dieta, segundo um estudo recente. Machos de raças grandes e gigantes estão no topo do ranking, como Great Danes e Pit Bulls. No entanto, muitas outras, variando em diferentes idades, pesos e tamanhos também relataram casos de DCM ligados a dietas BEG.
Por que o número de casos desta está aumentando?
O aumento na popularidade das dietas BEG, vegetarianas, veganas e preparadas em casa durante os últimos 10 anos está relacionado ao marketing direcionado a consumidores que querem que os hábitos alimentares de seus cães sejam parecidos com os seus próprios hábitos (ex. dietas cetogênicas, sem glúten, sem lactose). Estas linhas se parecem muito com as dietas BEG.
Os alimentos costumam ser atraentes para os proprietários, porque são feitos em lotes menores, parecem “personalizados” para as necessidades de seus animais de estimação ou mais adequados ao estilo de vida que o tutor deseja para seu pet. Muitos donos também atribuem a boa saúde de seus animais a esses tipos de dietas, porque foram originalmente introduzidas na tentativa de tratar ou prevenir as alergias em seus cães. No entanto, com uma mudança na dieta, ocorre uma mudança no perfil e na digestibilidade dos nutrientes.
Consulte seu veterinário para ajudar na escolha do alimento ideal (Foto: divulgação)
Alimentos para animais de estimação devem ser nutricionalmente balanceados e completos, é o que reforça a declaração da AAFCO (Associação Americana Oficial de Controle de Alimentos) nos rótulos de rações nos Estados Unidos. Os produtos que são apenas para suplementação ou alimentação intermitente têm um rótulo especial, informando o consumidor sobre sua finalidade. No entanto, as dietas não garantem a absorção completa de nutrientes e a biodisponibilidade dos ingredientes, porque alguns nutrientes interagem com os outros e são digeridos de forma diferente. Isso é o que poderia estar acontecendo nos casos de DCM associados à dieta.
O que você deve fazer para ter certeza de que vai oferecer alimentação adequada para seu cão?
É aconselhável marcar uma consulta para conversar com seu veterinário. Faça as seguintes perguntas:
• No momento, estou alimentando meu cão com uma ração sem grãos ou uma dieta personalizada – podemos marcar uma triagem para o DCM?
• Você recomendaria que testássemos os níveis de taurina no sangue do meu cão?
• Quando obtivermos os resultados, como saberemos se eles são baixos para a raça?
• Você recomenda suplementar a dieta (tire uma foto do rótulo da comida que você oferece a seu cão)? Se sim, com o quê?
• Estou preocupado com as alergias, vômitos, diarreia, infecções de ouvido do meu cão. Os problemas voltarão se mudarmos a dieta dele? O que você recomenda para evitar ou gerenciar isso?
• Você notou alguma coisa no exame físico do meu pet que poderia indicar doença cardíaca?
• Se você não percebeu nada, acha que ainda devemos fazer um ecocardiograma (ultrassonografia do coração) para termos certeza?
Se o seu cão apresentar sinais de DCM ou outra doença cardíaca que inclua tosse, intolerância ao exercício, dificuldade em respirar, episódios de desmaio ou diminuição de energia, fale com o seu veterinário o mais rápido possível. A parte boa é que a DCM mostrou-se reversível com uma mudança na dieta e suplementação em alguns casos (Freeman et al, 2018).
Se você está pensando em mudar a comida do seu cachorro, introduza-a gradualmente e escolha alimentos que tenham carne como o primeiro ingrediente e, sim, com grãos. Veja as informações nutricionais nos rótulos, mas tenha em mente que os ingredientes não estão listados da mesma forma que em alimentos para humanos.
Nutricionistas veterinários recomendam a compra de alimentos para animais de empresas com longo histórico e credibilidade, de modo que, se houver algum problema, você receba suporte rapidamente.
Por fim, você deve se preocupar em servir ao seu cão uma alimentação exótica ou livre de grãos? Infelizmente, a resposta é: talvez. Precisamos de mais informações para saber como alimentar adequadamente nossos animais de estimação, de modo que atendamos às suas necessidades e, ao mesmo tempo, ofereçamos toda a nutrição de que precisam. Sua melhor aposta ainda é conversar com seu veterinário sobre os requisitos específicos do seu cão e conhecer seu animal em termos de saúde e comportamento. Não se deixe levar pelas dietas da moda, anúncios publicitários ou produtos que parecem ser milagrosos. Discernimento e informação são as melhores armas para cuidar bem do seu melhor amigo.