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Cadela que sofreu eutanásia motiva criação de projeto de lei

Eutanásia de Oreo motivou a apresentação de projeto de lei que proíbe abrigos de Nova York a matar cães e gatos, quando um grupo de resgate se prontifica a cuidar dos pets
Crédito: Reprodução / The New York Times

Em junho de 2009, uma cadela, mistura de Pit Bull, conseguiu sobreviver milagrosamente depois de ser atirada por seu próprio dono, do 6° andar de um prédio, no Brooklyn, em Nova York, nos EUA. Ela foi socorrida por pedestres e levada ao ASPCA (American Society for Prevention of Cruelty for Animals – Sociedade Americana para a Prevenção e Crueldade contra Animais), onde foi tratada e batizada como Oreo. Seu dono foi detido por crueldade animal, e a cadela começou o tratamento de reabilitação.

Após o tratamento, Oreo não seria colocada para adoção. Ela seguiria para uma espécie de santuário animal, onde viveria livre e tranquila, para se recuperar dos traumas sofridos com apenas sete meses de idade. Mas a história da cadela não teve um final feliz. No dia 13 de novembro de 2009, ela sofreu eutanásia após decisão da equipe da ASPCA. O presidente da entidade, Ed Sayres, justificou a medida declarando que a cadela apresentou comportamento extremamente agressivo durante o processo de reabilitação.

Ao saber da decisão, pelo menos uma entidade, a Pets Alive, um santuário animal localizado em Middletown, em Nova York, se prontificou a cuidar de Oreo. Para eles, fora do ambiente do abrigo a cachorrinha poderia mudar seu comportamento.

Loucura de Canil

Segundo reportagem do San Francisco Gate, a mudança de ambiente poderia sim apresentar algum resultado, já que cães podem manifestar o denominado “kennel crazy” (algo como loucura de canil), uma reação ao confinamento, abrigo, estresse do tratamento, exercícios e do hospital. Além disso, a condição física de Oreo também pode ter contribuído para a agressividade. Se para um ser humano, racional, já é difícil ficar com as duas pernas imóveis, e ainda uma costela quebrada, imagine para um animal que foi atirado pelo próprio dono, de uma altura de seis andares. Some a isso o incômodo, o fato de estar sozinha, em meio a pessoas estranhas e desconhecidas, de certa forma abandonada, e muito provavelmente sentindo muita dor.

A ASPCA nunca respondeu à oferta da Pets Alive. Por isso eles foram até a imprensa, na esperança de que a eutanásia fosse suspensa. A ação foi em vão. Incansável, a Pets Alive resolveu liderar um movimento para obrigar Ed Sayres a renunciar ao cargo de presidente da Sociedade, que recebe muitas doações. Algumas pessoas que tomaram conhecimento do caso ameaçaram parar de contribuir com a ASPCA, e grupos de discussão manifestaram repúdio à eutanásia, no próprio site da entidade.

Lei Oreo

Até o senador pelo Estado de Nova York, Thomas Duane, e o membro da assembléia Micah Kellner, apresentaram a “Oreo’s Law” (a Lei de Oreo), um projeto de Lei Estadual, que proíbe abrigos a matar cães e gatos, quando um grupo de resgate se prontifica a cuidá-los.

Membro da Assembléia Legislativa de Nova York e co-autor do projeto de lei Oreo, Micah Kellner posa ao lado de sua cadelinha Nina, resgatada de um abrigo
Crédito: Reprodução / San Francisco Gate

Christie Keith, a repórter que assina o texto, questiona se a ASPCA agiu certo em sacrificar Oreo, ou se a Pets Alive é um lugar bom ou ruim. E diz: “mas Oreo já sofreu eutanásia, e nada irá mudar isso”. A jornalista declara que é favorável à Lei Oreo, e justifica sua escolha: “em Nova York, e certamente, em todo o país, há, exatamente neste momento, abrigos executando cães e gatos que poderiam ser salvos se esses locais contassem com um grupo de resgate e voluntários que promovessem a adoção dos pets”, desabafa.

E ela lista alguns casos de cães que seriam ou foram para a eutanásia: em Toledo, Ohio, Tom Skeldon, o diretor de controle de animais, foi forçado a abandonar o cargo, ao relutar em permitir que filhotinhos fossem para um outro abrigo, ou resgatados por algum grupo de proteção animal. Ele defendia que os filhotes fossem executados imediatamente.

Em Dallas, equipes de resgate pediram e imploraram, sem sucesso, para levar cães doentes para o veterinário, e depois destiná-los à adoção, ao invés de serem executados na antiquada câmara de gás do controle de animais, espécie de CCZ (centro de controle de zoonoses dos EUA), entre outros abusos cometidos por abrigos espalhados por todos os Estados Unidos.

Segundo Kellner, ele está recebendo vários e-mails e telefonemas apoiando a lei. Até seu Twitter e Facebook registraram um aumento expressivo após o anúncio do projeto de lei. Apenas um grupo não demonstra apoio, a ASPCA que defende a execução de Oreo, e o direito de tomar tal decisão.

Talvez a eutanásia de Oreo não tenha sido em vão. Caso aprovado, o projeto da lei Oreo, que foi baseado na Lei Hayden, aprovada em 1998 na Califórnia, salve não apenas cães de Nova York, mas de todo os Estados Unidos.

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